sábado, 26 de julho de 2008

O irmão espertão

Creusa tem um irmão, o Leomildo. Ele é do tipo que faz um comercial para TV, no qual todos os participantes parecem iguais e a única coisa que os difere é a cor da roupa e não avisa que estava vestindo vermelho e se acha no direito de ficar brabo que ninguém o elogiou pela atuação.

Enfim, ele possui um cartão-sei-lá-como-funciona-por-favor-não-perguntem-transporte no qual os créditos novos só são debitados quando os antigos acabam. Leomildo, querendo usufruir de novos e mais fartos créditos teve a brilhante idéia de comprar uma passagem para um lugar qualquer no exato valor dos créditos antigos. Assim fez! Comprou uma ida para Quissamã.

-Quissamã Leomildo?
-É, Quissamã. Mas por que se preocupar? Venho mês que vem e falo que não quero mais a passagem e recebo de volta meus créditos! Sinta minha esperteza!

Mês que vem chegou e foi Leomildo trocar sua passagem para a maravilhosa metrópole de Quissamã:
-Por favor, gostaria de trocar essa passagem aqui, aconteceu alguns imprevistos e não vou poder ir. Você poderia trocar ela por créditos?
-Não, não posso não.
-NÃO?
-Não, o máximo que posso é transeferir o dia da passagem. Que dia o senhor quer?
-Qualquer um
-QUE DIA?
-O último do mês, último horário.

Voltou para casa Leomildo, com sua passagem remarcada. Não tão alegre, nem com créditos resgatados ou se sentindo tão esperto. Ofereceu de graça a todos os amigos uma ida a Quissamã, niguém aceitou. Ele já planejou que um dia vai a rodoviária vender a passagem, mas não sabe se terá alguém que compre.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Creusa sai de férias

Dias mais do que esperados! Uma semaninha lá é meio pouco, mas Creusa não reclama e aproveita.

Ela foi à praia, e como é da cor do leite, passou uma grossa e generosa camada de filtro solar fator 1000 pensando:
-Agora estou protegida!

Assim, saiu pra caminhar e sentir a areia que há tanto tempo não pisava e ver o mar de perto. Caminhou, caminhou muito até que sentiu uma sensação estranha no pé.

-Mas que será? Parece que repuxa...

Óbvio que repuxava, ela havia esquecido do pé no ritual mágico do filtro solar. Queimou, queimou tanto que ela mal conseguia por havaianas e andar era um dos movimentos mais detestáveis possíveis. Além de ter conseguido uma coloração vermelha assustadoramente viva, digna de um Romero Britto e inchado de uma maneira surpreendente que todos os seres humanos brozeados uniformentes notavam que algo tinha dado errado e olhavam sem pena, com cara de dor, desdém e sarro.

Mas como nada ruim na vida da Creusa fica limitado a apenas um episódio, quando chegou em casa ela notou que seu couro cabeludo estava tão vermelho quanto o pé. Mal conseguiu pentear o cabelo por dias, sem falar que depois que começou a descascar parecia caspa.

Creusa que já estava linda. Permanecia ainda saudável, por pouco tempo é claro. Porque um incrível desarranjo intestinal causado pela compulsão por camarões levou-a ao posto de saúde tomar sorinho. O detalhe de já apresentar uma palidez mórbida quando chegou ao posto de saúde foi agravado pelo medo de agulhas e ela acabou desmaiando com uma intravenosa de Buscopan. Acordou sem saber porque com um algodão encharcado de álcool sendo esfregado nas suas narinas.

No último dia, Creusa já recuperada da maioria dos males foi entrar no mar uma última vez. Pensando palavras bonitas para definir aquele momento de contato com a natureza um cardume de peixes passou através dela, sim através. Não importou o tamanho do oceano, eles escolheram atropelá-la sem piedade. Quantas pessoas na Terra podem dizer que não foram detectadas pelo apuradíssimo senso de direção e detecção de obstáculos dos peixes? Creusa realmente é uma pessoa única!

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Descobertas

Creusa sempre teve muito orgulho de dizer para todos que não era mulherzinha, não tinha essas frescuras típicas de mulheres. Sim, Creusa se achava imune ao cú doce feminino até que um dia...

A patinha dificilmente sai com o pai e se sai sempre o faz com segundas intenções, na maioria dos casos as intenções são voltadas para o assunto comidas-caras-que-eu-nunca-pagaria-em-sã-consciência. Um dia, depois de passada um tarde toda passeando com o pai em lugares que pouco a interessvam Creusa esperava a frase mágica, praticamente equivalente a um biscrock para um cachorro que fez uma gracinha nova:
-Vamos comer algum doce filha?
Mas a frase não saia, e a garota se impacientava e quando faltava duas quadras para chegar em casa ela fala:
-Você não quer comer um doce pai?
-Ahnn... pode ser, onde você quer ir?
-Assim de má vontade não vou em lugar nenhum.
-Não estou de má vontade Creusa, só estou cansado. Mas diz onde você quer ir.
-Nem sei, nem tenho idéia. Melhor ir pra casa.
-Olha só, estou entrando em casa. Quer ir ou não?
-Ahh... agora nem quero mais,, você está na garagem já, nem me deu tempo de pensar!
-Creusa filhinha querida, fale logo, eu saio.
-Perdi a vontade. Pode estacionar.

Dois minutos depois, já em casa, Creusa não contente, começa o segundo round:

-Você me negou comida, como um pai pode fazer isso?
-Eu não neguei filhinha, você está começando a me irritar. Eu me lembro de ter perguntado e você disse que não queria mais
-Como em sã consciência eu iria recusar um bolo ou um sorvete?
-Você recusou, mas podemos ir na padaria da esquina se quiser amorzinho da minha vida.
-A padaria da esquina não gosto é muito chata.
-Mas filhinha você adora.
-Não gosto mais, descobri isso hoje. Mas o importante é que você me negou comida, como isso pode acontecer? Eu estou gorda? É isso? Engordei? Culpa tua se engordei, você queM me acostumou a comer doces.
- (...)
-É assim? Não vai falar comigo? Vai me ignorar como se ignora um cão sarnento, você está declarando guerra saiba disso! Vai ver, não vou pagar plano de saúde pra você quando ficar velho. Vai pra fila do SUS ser ignorado.
-Eu pago o teu e meu plano.
-Isso esnoba, me chama de pobre, de vagal. Eu estudo okéi? Não ganho salário por uma infelicidade. Essa sociedade que desvaloriza as mentes, sociedade injusta!
-Filha... cala a boca?
-Agora vai me agredir? Seu bruto, grosso!